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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Contra a crise, novidades no forno

Pesquisa aponta que 47% dos empresários do setor de alimentação planejam implementar novos serviços este ano, como promoções e delivery

Imagem: Pixabay

O cenário para o setor de restaurantes não é nada animador. Levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostra que um a cada seis empresários avalia dar fim ao negócio ou repassar o ponto nos próximos meses. E o motivo da decisão em 84% dos casos é o prejuízo acumulado pela empresa diante do aumento de custos e queda no faturamento. Para sobreviver nesse período de dificuldades, 47% dos empresários do setor afirmaram que pretendem implementar novos serviços em 2016, como mostra uma recente pesquisa do Sebrae-SP sobre o setor.

É o caso do empresário João Batista Carvalho, dono das pizzarias JR e Kariel, na zona norte de São Paulo, que está quebrando a cabeça para pensar em promoções e fazer os cálculos para compor um preço atrativo sem ficar no prejuízo. Em alguns casos, ele chega a vender pelo preço de custo para atrair novos consumidores. “Estamos sempre mexendo nas promoções”, afirma Carvalho, que também aderiu aos aplicativos de entrega de comida em casa.

E não dá para deixar os descontos de fora. Do total das vendas, cerca de 40% são de produtos na promoção. “Estou no ramo há mais de 15 anos e esse é o período mais difícil de toda a minha vida. Os custos aumentaram, mas não podemos repassar para o cliente. Não tem como”, desabafa Carvalho, que ainda precisou ajudar na pintura do estabelecimento com mais dois profissionais. “Hoje não adianta só entregar folheto nos bairros. As promoções ajudam muito, mas é preciso conhecer o produto para não ficar no prejuízo”, completa.

Algumas estratégias de Carvalho, como a promoção e o incremento no delivery – estão dentro daquilo que a pesquisa do Sebrae-SP identificou como prioridades dos empresários do setor de alimentação. Entre as ações escolhidas pelos entrevistados para implantação nos próximos meses estão a diversificação do cardápio (citada por 88%) e, logo depois, fazer promoções, apontada por 79% dos proprietários. Oferecer produtos mais saudáveis é a opção de 64% dos entrevistados e o delivery também é uma saída para grande parte dos empreendedores: 61% deles pretendem adotar esse serviço.

Para metade dos empresários, vender marmitex é um passo importante para manter o negócio aberto diante da crise. Já 46% pretendem vender produtos diferenciados que a concorrência não vende, enquanto 39% visam se adaptar e implementar aplicativos para expandir as vendas. E 24% querem fazer vendas por meio de cupons em sites de compra. A pesquisa foi realizada tanto com empresários que já tiveram contato com o Sebrae-SP como aqueles que nunca foram atendidos. O estudo ainda aponta que 30% dos que já passaram por atendimento e fizeram cursos de gestão e capacitação conseguiram melhores resultados. 

De acordo com a consultora do Sebrae-SP Maisa Blumenfeld, a entidade já atua fortemente com o segmento de alimentação fora do lar por meio de projetos e produtos específicos para a gestão do estabelecimento e, a partir do resultado da pesquisa, irá intensificar as ações e atrair novos empresários para que eles passem por capacitação e aprimoramento. “Os empresários mais preparados são os que têm mais condições de superar a crise. A qualidade dos serviços prestados, atendimento diferenciado, relacionamento com cliente, atenção aos detalhes, além de ofertar produtos e serviços em que o cliente perceba a boa relação custo-benefício, com certeza serão levados em conta na escolha do cliente”, diz.

Comida natural:

O restaurante vegetariano Vila das Rosas, em São Paulo, passa por um momento “curioso” na definição de Alexandre Attia, sócio do local junto com a mãe, Marie. “Começamos a ficar conhecidos, mas o crescimento que estávamos esperando parou. Tínhamos a expectativa de crescer, de que o negócio seria mais rentável, mas o crescimento não se manteve. Os clientes que vinham de três a quatro vezes por semana diminuíram a frequência”, conta Alexandre, que estuda incluir algum tipo de promoção na linha de “segunda-feira sem carne”.

O Vila das Rosas começou após o sucesso do falafel feito por Marie. “Minha mãe nasceu no Egito e o falafel era uma receita que eu sempre comia nas festas em casa. Muitas pessoas falavam que ela precisava abrir um restaurante, que o falafel era muito bom”, lembra Attia. Houve uma época em que Marie estava sem emprego e o filho havia voltado de uma temporada no Rio de Janeiro. Eles se juntaram com mais dois sócios para criar um espaço que unia nutrição e terapias. Depois de um tempo, os outros sócios saíram do negócio por motivos pessoais e o restaurante começou a ganhar mais importância.

A estratégia que começou a dar resultado para a empresa enfrentar esse momento de crise foi investir nos pratos congelados. Eles sempre existiram no cardápio, mas após participar de um curso do Sebrae-SP, a dupla começou a divulgar com mais destaque os pratos para o cliente levar para casa. Antes, as opções ficavam escondidas e precisavam ser embaladas na hora. Hoje, os pratos já estão prontos para a venda.

“Mudamos a comunicação de ‘faça sua encomenda’ para ‘leve para casa’. Mostramos que existia essa possibilidade com uma linguagem clara”, conta. O sucesso dos congelados tem surpreendido tanto que o empreendedor planeja a venda dos produtos em outros locais, como empórios, para funcionar como um “braço do restaurante”. 

A consultora do Sebrae-SP destaca que, a partir do ano que vem, segundo previsões de especialistas em economia, o mercado vai começar a se reaquecer e as empresas precisam se preparar. Para isso, ela alerta que os empresários devem ser mais criativos. “As pessoas não deixam de consumir e comer, mas elas esperam novidades. Por isso, os estabelecimentos que oferecem alimentação precisam se inovar, fazer promoções e se diferenciar de alguma forma dos concorrentes, principalmente em uma época de retração no consumo”, afirma Maisa.

Como superar o mau momento:

1. Seja mais produtivo e eficiente. Aprimorar a forma de fazer não quer dizer diminuir a qualidade do seu serviço.

2. Busque produtos substitutos. Uma alternativa é trocar ou incluir produtos, a fim de preservar o tíquete médio do seu cliente.

3. Fortaleça a relação com a sua equipe e com fornecedores.

4. Observe novas oportunidades e fique atento às mudanças. Novos modelos de negócios e canais de comercialização surgiram nos últimos anos.

5. Preocupe-se com o manuseio do alimento. O seu negócio não pode correr risco – nem o seu cliente.

6. Contribua para a construção da imagem da gastronomia brasileira. A comida é um dos principais atrativos do turismo no mundo.

7. Associe-se a outros estabelecimentos para ter parcerias para compras, realizar promoções e negociar prazos de pagamento e de entrega. 8. Seja mais participativo no ambiente legal, buscando associar-se a entidades representativas e participar das discussões.

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